quinta-feira, 11 de março de 2010

As implicações de um Irã nuclear

Por que o Irã causa tanta preocupação à comunidade internacional? Por que o Paquistão,um país que possui a bomba e um dos regimes mais instáveis do mundo,membros-chave das Forças Armadas simpatizantes ao Talebã, não causa tanto alarde?

A resposta está em duas palavras-chave: petróleo e Israel. O Irã é o terceiro maior produtor de petróleo do mundo e qualquer foco de instabilidade prejudicará o bom funcionamento do mercado. Israel por sua vez não aceitaria ter sua supremacia militar ameaçada por um vizinho muçulmano. O Irã financia o Hamas e o Hezzbollah. O primeiro, antes de vencer eleições democráticas em Gaza,era o principal grupo de resistência palestino e, por diversas vezes usou de métodos violentos contra civis israelenses. Já o Hezzbollah ,apesar de estar na lista de grupos terroristas dos EUA,é um partido político amplamente reconhecido pela sociedade libanesa,que se fortaleceu muito politicamente após a retirada das tropas israelenses do sul do país em 2002 e do ataque de Israel quatro anos depois. Um Irã nuclear patrocinando Hamas e Hezzbollah forçaria o governo israelense a repensar suas incursões militares no Líbano e nos territórios ocupados. Seria uma espécie de equilíbrio do terror na região,e paradoxalmente,uma garantia de paz,como a que ocorreu durante todo o período da Guerra Fria.

Não se deve levar a sério as afirmações de Ahmadinejad de “varrer Israel do mapa”. Não passam de bravatas que tocam o orgulho iraniano. Em entrevista à Larry King na CNN em 2008, Ahmadinejad afirmou que o sentido de sua frase era de que nenhum governo era eterno,e que a ideia,muito disseminada no mundo árabe especialmente após a guerra de 1967 de que o exército israelense é invencível não passa de mito,e usou como exemplo o desmoronamento da URSS, algo inimaginável poucos anos antes e que acabou acontecendo.

A intenção do governo iraniano é prevenir um ataque israelense ou norte-americano e auferir vantagens nas negociações internacionais. O modelo do Irã é a Coréia do Norte,que desde seus testes atômicos em 2006,não tem sido mais pressionado pela comunidade internacional.

Um fato novo seria o governo iraniano aceitar a troca de urânio por combustível nuclear francês. O governo de Teerã afirma que não há garantias de entrega desse combustível e se apoia num dado concreto: o próprio governo francês afirmou que o Irã teria que entrar numa fila de espera de dois anos. O Irã hoje só possui combustível para um ano. O impasse está criado.

Quanto ao Brasil, o chanceler Celso Amorim,já havia declarado em fevereiro que não condicionaria as posições brasileiras em função de suas ambições à cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU,pois de uma forma ou de outra,todo passo que se dá acaba por desagradar algum dos atores internacionais. Segundo o professor da UnB Flávio Saraiva, o Brasil está mostrando autonomia na sua posição e isso só trará conseqüências se o país mantiver sua posição de apoio a Ahmadinejad mesmo diante de provas irrefutáveis de que o programa nuclear iraniano não é pacífico,e tanto Celso Amorim quanto o presidente Lula já deram sinais inequívocos de que o apoio ao Irã está restrito a um programa com fins pacíficos

Segundo analistas norte-americanos Hillary Clinton saiu “desapontada” de seu encontro com Lula,por não ter conseguido que o Brasil apoiasse sanções imediatas. O máximo que a secretária de Estado norte-americana conseguiu extrair do presidente brasileiro foi a promessa de que terá uma "conversa franca" com Ahmadinejad em maio.
Há quem pense que o Brasil esteja se arriscando inutilmente ao tentar ser um mediador na questão iraniana. Mas é um risco que pode valer a pena se Lula obtiver alguma influência nessa questão. Embora o motivo oficial da visita seja a assinatura de acordos bilaterais, os olhos do mundo avaliarão a capacidade da diplomacia brasileira de tentar fazer "as coisas mudarem de curso" como afirmou a senhora Clinton.

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