quarta-feira, 28 de abril de 2010

"Muito mais ingênuos são os que acreditam em tudo o que o serviço de inteligência americano fala."

Numa brilhante entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo do dia 25,o chanceler Celso Amorim,que como o próprio jornal lembra,logo será o mais longevo entre os nossos ministros das relações exteriores superando até o lendário Barão do Rio Branco,patrono da nossa diplomacia,mais uma vez deixou claras as premissas básicas da nossa diplomacia: a autonomia,a independência e o pragmatismo,tendência que o Brasil já segue há décadas,com um breve intervalo nos mandatos de Collor e FHC.
O entrevistador tentou colocar Amorim contra a parede em praticamente todas as perguntas,com temas como Cuba,Honduras e,obviamente,a bola da vez, o Irã. Nos ateremos aqui a este último tema.
Em tom sóbrio,como cabe a qualquer diplomata que se preze,o chanceler brasileiro se atém aos fatos: não há previsões de que o Irã obtenha a bomba pelo menos nos próximos três anos (informação reconhecida até mesmo por autoridades como Thomas Pickering, que trabalhou com a ex-secretária de Estado dos EUA Madeleine Albright, ou o ex-conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, Zbigniew Brzezinski).
A posição do Brasil é de sobriedade: o Irã deveria ter aceito a proposta de trocar o seu urânio enriquecido a 20% por elementos combustíveis para o reator de Teerã, já que o governo iraniano alega que o principal motivo do seu programa nuclear é o uso hospitalar desse tipo de energia. Mas não é porque Ahamdinejad recusou tal troca (segundo Teerã porque a mesma não seria instantânea,ou seja,o Irã teria que entregar seu urãnio primeiro e esperar até Allah sabe quando para que a troca fosse efetuada),que devemos voltar ao discurso republicano de "todas as opções estão sobre a mesa", uma maneira velada de dizer "façam o que queremos ou terão o mesmo destino do Iraque."
Para o presidente Lula, o governo do presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, tem os mesmos direitos dados ao governo brasileiro. Em busca de uma solução pacífica que impeça eventuais sanções por parte do Conselho de Segurança das Nações Unidas, Lula enviou Celso Amorim, para Teerã (Irã), Istambul (Turquia) e Moscou (Rússia).
Segundo Lula, é obrigação de todos buscar um acordo de paz e preservar o direito de cada país de ter seu programa de desenvolvimento de energia nuclear por representar o caminho para a preservação do meio ambiente e também para vários projetos pacíficos. “O risco maior que eu poderia ter era me omitir achando que só alguns países podem cuidar da paz”, disse ele.Um recado claro a Washington dado também por Amorim que em dado momento da entrevista ao Estadão questiona porque é tão importante para um certo grupo da elite brasileira saber o que os outros pensam...

Para ler a entrevista completa: http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100425/not_imp542722,0.php

terça-feira, 20 de abril de 2010

Brasil é 'jogador intrigante' na diplomacia global, diz revista britânica

A revista Monocle, editada na Grã-Bretanha, traz na edição deste mês uma reportagem sobre os motivos do que chama de boom diplomático brasileiro, afirmando que o Brasil é “um jogador intrigante” na diplomacia global.

“Está claro que o Brasil se tornou um jogador intrigante no cenário diplomático mundial, flexionando seus joviais músculos e usando seus cotovelos para gentilmente cutucar as antigas potências, especialmente os Estados Unidos, para que saiam de seu caminho quando necessário”, diz o artigo "Um Ministério de Sol - Brasília", assinado pelo jornalista Andrew Tuck.

A revista diz que analistas ocidentais e brasileiros de classe média acham que o Brasil está se aproximando demais de países como o Irã, a Venezuela e a China, e ignorando tradicionais parceiros comerciais como os Estados Unidos e Israel.

Do outro lado, diz o artigo, há os que acreditam que o país está simplesmente buscando o respeito que “essa nação próspera e rica em recursos merece” e que a promoção de novas alianças é um “inovador contrapeso ao poder norte-americano”.

“O que todos têm certeza é que o Brasil quer ser ouvido e que a principal ambição do país é conquistar uma vaga permanente no Conselho de Segurança da ONU”, afirma.

Desafios
Essa ambição, no entanto, deverá esbarrar em desafios no futuro, segundo analistas ouvidos pela reportagem.
Entre eles estariam as incertezas sobre os rumos da política externa brasileira quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deixar o poder, a suspeita de que o Itamaraty só pode ser audacioso “enquanto a economia estiver forte” e a resistência de alguns países latino-americanos à expansão da influência do Brasil.

“Eles (alguns países latino-americanos) estão temerosos de que os Estados Unidos possam se retirar e deixar o Brasil liderar toda a política externa”, afirma Michael Shifter, presidente do Programa Andino no Diálogo Interamericano, uma organização com sede em Washington.

“Eles querem multiplicar suas opções, não querem ser submetidos aos desejos do Brasil”, diz.
A revista também fala sobre a influência cultural brasileira. “Diferente dos debates econômicos, envolver o público com a cultura brasileira não é tarefa difícil – da música ao futebol, o mundo está aberto ao poder suave do Brasil.”

“Colocando simplesmente, o mundo gosta dos brasileiros e do que eles representam.”
Estilo brasileiro
Segundo a Monocle, o estilo informal do presidente brasileiro pode ser visto como um trunfo. A revista cita, como exemplo, o fato de Lula ter substituído os tradicionais jantares de Estado por almoços no esquema self-service, um esquema que teria sido aceito sem problemas pelos chefes de Estado.

“É uma metáfora adequada para a nova diplomacia do governo: talvez problemática para os tradicionalistas, estranhamente inovadora para outros, certamente quebrando algumas regras”, diz.

“Mas tudo feito com um estilo brasileiro que, no final das contas, deveria deixar poucas pessoas se sentindo ameaçadas.”

Fonte: http://noticias.uol.com.br/bbc/2010/04/19/brasil-e-jogador-intrigante-na-diplomacia-global-diz-revista-britanica.jhtm

domingo, 18 de abril de 2010

Pressões sobre o Brasil

Os EUA esperam a adesão do Brasil ao protocolo adicional que permitiria inspeções da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) até a reunião de revisão do Tratado de Não-Proliferação Nuclear, que se realiza em maio, em Nova York.

O Brasil é um dos poucos países que não assinou o protocolo. A posição de Brasília é rejeitar novos compromissos no âmbito do TNP até que os países com armas nucleares cumpram sua promessa de desarmamento.
Uma das funções da AIEA é garantir que os materiais e as atividades nucleares de um país sejam utilizados exclusivamente para fins pacíficos. Para isso a Agência assina com os países (ou conjunto de países) um acordo de Salvaguardas Nucleares.
Os países que assinam tais acordos são, de maneira geral, signatários de um outro acordo em que renunciam ao uso e posse de armas nucleares.

Na grande maioria dos países, este acordo é o TNP. O Brasil sempre considerou esse acordo discriminatório e preferiu, juntamente com a Argentina, assinar um acordo bilateral onde basicamente os mesmos compromissos eram assumidos.

Com base nesse acordo Brasil, Argentina, ABACC (Agência Brasileiro-Argentina de Contabilidade e Controle de Materiais Nucleares) e AIEA assinaram em Dezembro de 1991, um acordo de Salvaguardas denominado Quadripartite. Esse mesmo acordo de salvaguardas foi usado para atender ao TNP quando Argentina e posteriormente o Brasil resolveram ratificá-lo.

Porém,quando foram descobertos os programas clandestinos do Iraque e da Coréia do Norte, não obstante serem esses países signatários do TNP e ter em vigor um Acordo de Salvaguardas com AIEA o sistema de salvaguardas existente foi contestado.

Sob liderança dos EUA a Assembléia da AIEA resolveu adotar medidas que foram chamadas de “fortalecimento de salvaguardas”. Algumas medidas puderam ser adotadas de imediato porque se entendeu que a AIEA já tinha mandato para tanto, outras ficaram pendendo da aceitação pelos países de um Protocolo Adicional cujo modelo foi aprovado pela AIEA em 1997.

A diferença entre o novo tipo de “salvaguardas fortalecidas” e o precedente pode-se resumir no seguinte: anteriormente, os países declaravam seus materiais (essencialmente, Urânio a partir de uma certa pureza e Plutônio) e suas instalações nucleares e a AIEA (e a ABACC) se encarregavam da contabilidade do material declarado nas instalações declaradas. Essas instituições cuidavam para que não houvesse desvios nessa contabilidade. Todavia, a eventual existência de um "caixa dois" de materiais e instalações independentes era praticamente ignorada. As novas salvaguardas ocupam-se também da possibilidade de existência desse “caixa dois”.

O Brasil já aceitou a necessidade da AIEA certificar-se de que a declaração dos países sobre atividades e materiais nucleares seja completa. Neste sentido, algumas medidas do chamado “fortalecimento de salvaguardas” já estão em vigor.

O Protocolo Adicional objetiva ampliar as informações recebidas dos países e dar à AIEA um maior acesso a instalações declaradas ou não. Com ele, em teoria, qualquer lugar do País poderia estar sujeito a inspeções. Alguns lugares poderiam, no entanto, merecer um acesso administrado que visa preservar alguns segredos tecnológicos.

Um dos pontos mais polêmicos do novo tipo de salvaguardas é que a AIEA deve ser capaz de fornecer anualmente uma certificação confiável não somente sobre o material nuclear declarado em um país mas sobre a ausência de materiais e instalações nucleares não declarados.

Anteriormente já existia considerável dúvida sobre a possibilidade de um país poder conseguir esse tipo de “atestado negativa”. Com o episódio sobre a comprovação da não existência de armas de destruição em massa no Iraque essa dúvida ficou fortalecida. Também ficou evidente o risco que pode correr o país que aceite um compromisso que implique em constantemente ter que provar sua inocência.

No governo FHC,o Brasil aceitou ratificar o Tratado de Não Proliferação Nuclear. O TNP é assimétrico e discriminatório, por dispensar a inspeção em países nuclearmente armados e inspecionar somente os desarmados. Até a assinatura do TNP, o nosso compromisso era com a Argentina,e com as já citadas ABAA e AIEA e não diretamente com a ONU, como passou a ser.

Esperamos que o Brasil não assine este protocolo adicional que fere a nossa soberania e acima de tudo é de uma hipocrisia ímpar,reforçada pelo acordo assinado recentemente em que Rússia e EUA se compromente em descartar armas ultrapassadas,gesto inócuo,visto pelos menos informados e mais ingênuos como um "grande passo rumo ao total desarmamento nuclear".

O governo brasileiro não pode ceder em troca de promessas vãs de um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU,e nem à ameaças veladas de que, em caso de negativa o Brasil estaria muito próximo de ser tratado com um "rogue state". O nosso contexto e posição geográfica são completamente distintos de Coreia do Norte e Irã,e o Brasil possui uma longa tradição diplomática de país pacífico e cumpridor dos tratados dos quais é signatário e não precisa de forma alguam se submeter à inspeções intrusivas.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Cartas Marcadas em Washington

Quarenta e sete nações foram convidadas pelo governo norte-americano para a Conferência sobre Segurança Nuclear. Entre elas oito dos nove países detentores da bomba nuclear (EUA, Rússia, China, França, Reino Unido, Índia, Paquistão e Israel). Curiosamente, Coréia do Norte e Irã que serão temas centrais das discussões não foram convidados. O embaixador iraniano nas Nações Unidas Ali Soltanieh afirmou que a cúpula nasce com seu resultado predeterminado já que apenas nações selecionadas pelos EUA foram convidadas. Além disso a nova política norte-americana para o uso de armas nucleares,causou revolta no Irã. No documento, os EUA deixam em aberto a possibilidade de uso de armas nucleares contra países "fora da lei" como o Irã e a Coreia do Norte. Tal atitude causou protestos oficiais do governo iraniano junto à ONU que chamou a estratégia de "terrorismo de Estado".
Enquanto isso o Irã promove sua própria Conferência de Desarmamento Nuclear em Teerã nos próximos dias 17 e 18 de abril com a presença de membros da ONU e da Agência Internacional de Energia Atômica.

sábado, 10 de abril de 2010

Irã não vai implorar para evitar sanções, diz Ahmadinejad

Por Hashem Kalantari TEERÃ (Reuters) - O presidente do Irã declarou na quinta-feira que não vai implorar aos adversários do programa nuclear de Teerã para evitar sanções, enquanto Rússia e Estados Unidos diziam que novas medidas podem se fazer necessárias.
Mahmoud Ahmadinejad, que na quarta-feira chamou o presidente americano Barack Obama de "caubói" dotado de armas nucleares, disse que o Irã "vai tentar converter as sanções em uma oportunidade", e não mudar sua postura para tentar evitar que elas sejam impostas.

"Não saudamos a ideia de ameaças ou sanções, mas jamais imploraríamos àqueles que nos ameaçam com sanções para que revertessem suas sanções contra nós", ele teria dito, segundo a agência oficial de notícias IRNA.

Ahmadinejad falou no momento em que Obama e o presidente russo Dmitry Medvedev assinavam um tratado de redução de armas nucleares em Praga. Obama disse que ele e Medvedev estão "trabalhando juntos no Conselho de Segurança das Nações Unidas para aprovar sanções contundentes contra o Irã".

Medvedev disse que está insatisfeito com a postura do Irã em relação a seu programa nuclear, que o Ocidente acredita que tenha por objetivo o desenvolvimento de armas atômicas.

"Teerã não está reagindo a uma série de acordos construtivos sugeridos para se chegar a uma solução de compromisso. Não podemos fechar nossos olhos para esse fato. É por isso que não excluo a possibilidade de o Conselho de Segurança ter que estudar esta questão novamente", disse Medvedev a jornalistas.

Obama espera persuadir a Rússia e a China, ambas com poder de veto no Conselho de Segurança, a abrir mão de sua tradicional relutância em relação à adoção de novas sanções.

Sua campanha deverá continuar na próxima semana, quando Medvedev e o presidente chinês Hu Jintao comparecerão a uma cúpula em Washington sobre a segurança nuclear.

Ao mesmo tempo em que fez pouco caso da ameaça de sanções, o Irã lançou um aviso desaconselhando que sejam tomadas medidas militares contra seu programa nuclear.

Depois de vários avisos de que vai reagir contra Israel se esse país o atacar, o chefe militar iraniano disse na quinta-feira que, se o Irã for atacado por Washington, ele atacará forças americanas estacionadas no Oriente Médio.

"Se a América lançar uma ameaça séria ao Irã e tomar qualquer medida contra o Irã, nenhum dos soldados americanos que se encontram na região voltará vivo para os Estados Unidos", teria dito o general Hassan Firouzabadi, segundo a agência de notícias semioficial Fars.

Tropas americanas estão em ação militar no Iraque e Afeganistão. Os dois países fazem fronteira com o Irã.

(Reportagem adicional de Denis Dyomkin, em Praga)

Agradeço a colaboração de Luciana Garcia!

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Amorim acredita em acordo com Irã e desaconselha sanções da ONU

O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, afirmou ontem que ainda é possível um acordo entre a Agência Internacional de Energia Atômica (Aiea) e o governo do Irã sobre o programa nuclear daquele país. Isso poderia evitar a imposição de novas e mais severas sanções econômicas, desta vez com apoio da Organização das Nações Unidas.

- Se as sanções se confirmarem, o presidente Mahmoud Ahmadinejad ficará isolado e haverá uma radicalização, inclusive com o apoio da oposição no país - advertiu Amorim durante em audiência pública na Comissão de Relações Exteriores e defesa Nacional (CRE).

O chanceler brasileiro disse ter "quase certeza" que o Irã não renunciará ao seu programa de enriquecimento de urânio, que Amorim classificou como "para fins pacíficos".

- É um país que tem enormes reservas de urânio. Além disso, não é proibido enriquecer urânio - observou o ministro.

Amorim disse aos senadores que, sem acordo e com radicalização, teme que ocorra com o Irã o mesmo que se deu com o Iraque sob Saddan Husseim, país no qual a população pobre é que pagou o preço das sanções econômicas. O chanceler, entretanto, ponderou que o Irã "precisa cooperar o máximo possível".
"Enquanto houver um país com armamento nuclear, outro também vai querer se armar" afirmou.

O grande embate da audiência deu-se entre o ministro e o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), que vem mantendo uma queda de braço com o governo, e já anunciou que vai obstruir votações com a indicação de novos embaixadores, em protesto contra a política externa. Neste momento, estão parados na CRE os exames dos nomes de uma dezena de diplomatas indicados pelo presidente da República para representações no exterior.

O parlamentar amazonense sustentou ser "uma ingenuidade achar que o Irã não quer produzir uma bomba atômica".

Me pergunto quais as informações privilegiadas que Arthur Virgílio pode ter para afirmar com tanta certeza que o Irã quer a bomba e não ser o preconceito e o "achismo" que como corretamente tem avaliado o governo brasileiro marcaram o pré-guerra com o Iraque. Muitos acreditaram que Saddam possuía armas de destruição em massa apenas baseados na ideia de que Saddam era "do mal" e obviamente teria essas armas. Por este "raciocínio" Teerã quer ter armas atômicas porque é um "regime fanático" que quer "varrer Israel do mapa". A verdade é muito mais complexa que isso: se Teerã realmente estiver desenvolvendo armas atômicas isso se deve mais a uma vontade de equilibrar o poder militar com Israel do que atacá-lo,até porque um bombardeio nuclear iraniano fatalmente atingiria também a população palestina e seus aliados do Hamas financiados por Teerã. O maior perigo à segurança mundial seria aum ataque "preventivo" de Israel ao Irã que poderia desencadear uma resposta imprevisível do regime de Teerã e de seus aliados no Líbano,Síria, Gaza e Cisjordânia.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Relações do Brasil com o Mundo Árabe-parte II

O mundo árabe ocupa um território de 12.911,94 milhões de quilômetros quadrados, e cerca de trezentos milhões de habitantes estendendo-se por 85% da faixa entre o Mediterrâneo, Golfo Pérsico, Mar Vermelho e Mar da Arábia (os outros 15% são ocupados por Irã e Israel). Divide-se em duas sub-áreas: a primeira, chamada Maghreb (Ocidente), compreende o norte da África, ou seja: Marrocos, Tunísia, Líbia e Argélia. A segunda, denominada Macharek, (Oriente), inclui Egito, Kuwait, Iraque, Jordânia, Líbano, Síria, Iêmen, Emirados Árabes Unidos, Sudão e Arábia Saudita.
Após o estabelecimento de relações diplomáticas com o Egito, os próximos países com quem o Brasil estreitou os laços foram Líbano (1946), e Síria (1952). Estas eram justificadas pela grande colônia sírio-libanesa presente no país, a qual tinha estabelecido canais de comércio e exportação com seus países de origem, através de contatos de parentesco e amizade. Para se ter uma idéia, em 1968, cerca de 60% das exportações brasileiras ao mundo árabe eram dirigidas ao Líbano.

Em 1961, o Brasil estabelece relações com Marrocos, Tunísia e Argélia. Esta decisão foi muito criticada na época, devido à sua falta de sentido prático. E realmente, após seis anos, não havia sido constatada nenhuma relação comercial entre o Brasil e estes países norte africanos. O Brasil importava relativamente muito (5% de suas importações, basicamente fosfato, petróleo e potassa), e exportava pouco, criando assim um déficit em sua balança comercial.
Dentro da ótica comercial brasileira, no entanto, o Iraque era considerado comercialmente mais interessante do que o grupo formado por Síria, Líbano e países do Maghreb. A Arábia Saudita também foi encarada como parceira em potencial, tendo o Brasil iniciado contatos preliminares com os sauditas em 1967.
As primeiras tentativas de ingresso do Brasil nos mercados árabes não foram bem-sucedidas, devido ao desconhecimento mútuo entre economias e culturas tão distintas . Ambos os lados demonstravam interesse em incrementar o comércio, mas a conexão entre os setores técnicos e produtivos não era eficiente. Porém,na década de 1970havia três boas razões para o Brasil querer ingressar no mercado árabe:
a) Ter acesso a um mercado maior que o brasileiro tanto em população quanto em poder aquisitivo.
b) Por ser um mercado supridor dos minerais que o Brasil precisava como petróleo, potassa e fosfato a preços que eram de três a cinco vezes inferiores ao mercado interno brasileiro.
c) Acesso direto ao mercado de capitais dos países produtores de petróleo.

Obviamente que antes da década de 1970,já era importante preencher este último quesito.No entanto,a crise do petróleo o transformou numa necessidade.Foi proposto um programa para criar incentivos que rompessem aquele imobilismo: a criação de transações diretas tanto de venda quanto de compra, evitando intermediários e com a finalidade de estimular a criação de escritórios brasileiros naqueles países, assim como a criação de firmas locais brasileiras; o estabelecimento de empresas brasileiras em zonas francas árabes, como: Tanger, Bizerta, Port Said e Beirute, e a criação de linhas de crédito para importação e exportação. No entanto, já era consenso a idéia de que o conhecimento mútuo por meio da diplomacia era a melhor tática. A princípio, o Brasil estabeleceu representação em Tunis, que respondia também pelo Marrocos, Argélia, Líbia e obviamente a própria Tunísia; Cairo que alcançava Egito, Sudão, Kuwait e Iêmen; Beirute que abrangia Líbano, Chipre, Jordânia, Síria, Arábia Saudita e Iraque; e Karachí, que abrangia os Emirados Árabes Unidos, Catar, Bahrein, Omã e Paquistão. Na época foram propostos também cursos de comércio exterior a serem ministrados no Itamaraty voltados para o mercado árabe, similares a outros já existentes nos EUA e Europa.

Em 1968, o Brasil deu início às relações diplomáticas com a Arábia Saudita, ficando a embaixada brasileira no Líbano encarregada de responder pelas ligações com Riad. Em contrapartida, as relações diplomáticas sauditas com o Brasil e América Latina eram administradas desde sua embaixada em Washington (EUA). No entanto, em 1973, foi decidido que os dois países trocariam embaixadores, tendo o Brasil enviado como seu primeiro representante o embaixador Murilo Gurgel Valente nesse mesmo ano. Em 1974, o governo saudita enviou a Brasília o embaixador Mamoun Kabbani. No final de 1973, seria instalada em Bagdá a embaixada brasileira, que daria novo dinamismo nas relações Brasil-Iraque. No ano seguinte desenvolver-se-iam as relações entre Brasil e Argélia, com a entrada da Braspetro no país e o inicio da exploração do petróleo argelino, além do incremento das relações na área dos transportes. No ano de 1974, os maiores movimentos comerciais foram atingidos no intercambio com a Argélia e a Líbia, cujo montante chegou a cerca de US$325 milhões. No entanto a balança comercial com este último era muito desequilibrada a favor do país africano. Este déficit cresceu nos anos seguintes e chegou em 1977, a quase três bilhões de dólares em favor dos árabes. Portanto, a aproximação com os países árabes, ao contrário do que muitos pensam, teve seu inicio com Médici e não com Geisel.Tal aproximação encaixava-se perfeitamente no tipo de relação Sul-Sul pretendido por Médici.

Mas obviamente foi Geisel que, devido à crise do petróleo, estreitou os laços comerciais com os países da região. Na época,a OPEP dividiu os países em amigos ou não da causa palestina, para não sofrer os efeitos do embargo o país precisava estar no primeiro grupo. Enquanto Médici posicionava-se de forma no mínimo ambígua em relação à resolução 242 da ONU que ordenava a retirada israelense dos territórios palestinos ocupados, o ministro Azeredo da Silveira, numa recepção ao ministro de negócios estrangeiros saudita Omar Al-Sakkaf, posicionou-se de forma inequívoca a favor da causa palestina e, em 1974, chegaria a fazer um discurso pró-palestino na XXIX Assembléia Geral da ONU. Em seu pronunciamento, Azeredo da Silveira afirmou que

[...]A objeção à guerra de conquista é uma constante na História do Brasil e um preceito em nossa Lei Fundamental. Consideramos absoluto o direito á integridade territorial e à obrigação de respeito à soberania. Em conseqüência, acreditamos que a desocupação doa territórios ocupados é, insofismavelmente, parte integrante da solução do conflito.

Assim, o governo brasileiro aceitava os direitos do povo palestino a autodeterminação e soberania como único caminho para uma paz duradoura na região. Na XXXI Assembléia Geral da ONU, o Brasil votou a favor de uma solução negociada entre árabes e israelenses, tendo como base a carta da ONU,posição que mantém até hoje.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

A mudança de rota da China e o cerco se fecha ao Irã

Até agora dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU (EUA,França,Grã-Bretanha,Rússia e China),apenas esta última vinha resistindo a penalizar o Irã. O comércio entre os dois países é da ordem de US$ 36,5 bilhões. O Irã importa bens de consumo e maquinário e exporta petróleo,gás e outros derivados do óleo. A China depende do Irã na geração de 11% de sua energia elétrica.
O embaixador da China em Teerã, Xie Xiaoyun chegou a afirmar que "as sanções não surtirão o efeito desejado não importa quão severas sejam". Era uma posição idêntica à do Brasil.Porém uma mudança de posição de Obama a respeito de assuntos estratégicos para a China pode fazer com que ocorra também uma mudança de Beijing em relação as sanções ao Irã.
Hu Jintao deixou claro que não aceitará interferência norte-americana na questão tibetana e de Taiwan. Segundo Jintao que demonstrou irritação com o fato de Obama ter recebido o líder tibetano Dalai Lama na Casa Branca em fevereiro, as questões de Taiwan e do Tibete são interesses básicos do país ligados à sua soberania e integridade territorial. Em troca do apoio as sanções, os chineses querem que os EUA aproveitem os encontros sobre segurança nuclear a serem realizados em Washington nos dias 12 e 13 de abril para trazer também a Coreia do Norte à mesa de negociações,que para os chineses é uma ameaça muito mais palpável que o Irã.
Em fevereiro o especialista em Oriente Médio da Academia Chinesa de Ciências Sociais disse em entrevista que as relações Irã-China são “superestimadas”. Segundo ele, “A China não manteria uma relação tão próxima com o Irã pois isso prejudicaria suas relações com muitos outros países." E a China,um país pragmático por excelência, que conseguiu criar um regime mezzo capitalista e mezzo comunista não irá sacrificar seus interesses pelo Irã.