domingo, 27 de junho de 2010

Os EUA se perguntam: o que fazer com Israel?

Alguns tópicos são tão inflamatórios que nunca são discutidos sem que primeiro seja feita uma série de advertências. E, assim, quando Anthony Cordesman, um estudioso de política externa de Washington, publicou um artigo na quarta-feira intitulado "Israel como um Problema Estratégico", fez questão de abrir o texto com uma série de explicações.

Primeiro, observou, o compromisso americano com Israel tem motivos morais e éticos - uma reação ao Holocausto, ao antissemitismo de países ocidentais e à resistência americana em entrar na II Guerra Mundial, o que permitiu o extermínio dos judeus pelos nazistas. Em segundo, Israel é uma democracia com os mesmos valores que os EUA. Terceiro, os EUA jamais abandonarão Israel, sempre o ajudando a manter sua vantagem militar sobre seus vizinhos. E Washington protegerá Israel contra uma ameaça nuclear iraniana.
Mas, assim que acabou de expor o que no jornalismo é conhecido como "parágrafos de garantia", Cordesman apresentou um argumento que tem ganhado espaço em Washington - dentro do governo de Obama (incluindo Casa Branca, Pentágono, Departamento de Estado) e fora, em fóruns e encontros políticos. Governos israelenses recentes, particularmente o do primeiro-ministro Benyamin Netanyahu, alegou Cordesman, têm ignorado as preocupações de segurança nacional de seu maior benfeitor, os EUA, e têm adotado medidas que prejudicam os interesses americanos no exterior.


"A profundidade do compromisso moral de Washington não justifica nem desculpa ações de um governo israelense que desnecessariamente torna Israel um problema estratégico quando o país deveria continuar a ser um trunfo", escreveu Cordesman em comentário para o Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais. "Já é tempo de Israel perceber que tem obrigações com os EUA, assim como os EUA têm com Israel, e se tornar muito mais cuidadoso na forma como testa os limites da paciência dos EUA e explora o apoio dos judeus americanos."

A lista de iniciativas recentes do governo de Netanyahu que constituem uma ameaça potencial aos interesses americanos tem aumentado de forma constante, segundo muitos peritos em política externa. A violência que explodiu quando patrulhas israelenses invadiram barcos da flotilha que seguia para a Faixa de Gaza em 31 de maio esfriou as relações americanas com um aliado-chave muçulmano, a Turquia. A disputa na Faixa de Gaza também torna mais difícil que os EUA consigam formar uma coligação que inclua Estados árabes e muçulmanos contra as ambições nucleares do Irã. A recusa de Netanyahu de interromper a construção de habitações judaicas em Jerusalém Oriental também prejudica as relações americanas com aliados árabes. Tudo isso torna ainda mais difícil alcançar um eventual acordo de paz, que muitos oficiais do governo acreditam ser fundamental para os interesses dos EUA.

O presidente Barack Obama e o general David H. Petraeus, recém-empossado chefe das operações militares dos EUA no Afeganistão, falaram nos últimos meses sobre a ligação entre o contínuo conflito entre israelenses e árabes e os interesses de segurança dos americanos. Durante uma coletiva de imprensa em abril, Obama declarou que esses conflitos no Oriente Médio acabaram "custando significativamente em termos de sangue e tesouros"; além disso, ele fez uma ligação explícita entre a disputa israelo-palestina e a segurança dos soldados americanos enquanto combatem extremistas islâmicos no Iraque, Afeganistão e outros locais.

Petraeus abordou o tema num recente discurso ao Congresso norte-americano, dizendo que a falta de progressos no Oriente Médio cria um ambiente hostil para os EUA. Após causar furor entre os presentes, ele explicou que não queria dizer que os soldados são colocados em risco pelo apoio dos EUA a Israel, fazendo um grande esforço para salientar a importância da parceria estratégica com Israel. "Mas o status quo atual é insustentável", afirmou. "Se não obtivermos progresso em uma paz justa e duradoura no Oriente Médio, os extremistas terão espaço para nos perseguir."

Recentemente,Benyamin Netanyahu anunciou a construção de novos assentamentos judaicos na Cisjordânia. Segundo o Direito Internacional construir assentamentos em territórios ocupados militarmente é ilegal,mas o governo israelense segue construindo essas colônias impunemente há décadas. No início de seu governo, Obama se manifestou firmemente contra a expansão destas colônias, mas a atitude de Israel até agora tem sido a de ignorar solenemente o presidente norte-americano e a opinião pública mundial. Israel se isola casa vez mais confiando na força de suas armas e de seu lobby em Washington.Resta saber o que acontecerá quando as atitudes de Bibi realmente se chocarem com os interesses norte-americanos na região.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Frase do dia

"Queimamos os dedos fazendo coisas que todo mundo dizia serem úteis e, no fim das contas, descobrimos que algumas pessoas não aceitavam 'sim' como resposta",(Celso Amorim ao jornal inglês Financial Times em referência ao estímulo que o Brasil recebeu dos EUA para negociar com o Irã e o posterior recuo de Obama.)

terça-feira, 15 de junho de 2010

ONU distribuirá em Gaza ajuda de navios apreendidos por Israel

NAÇÕES UNIDAS (Reuters) - A Organização das Nações Unidas (ONU) concordou em distribuir na Faixa de Gaza a ajuda humanitária levada por três navios apreendidos por Israel em 31 de maio e teve o consentimento de Israel e dos proprietários turcos para realizar a operação, disse um enviado da entidade nesta terça-feira.

A Marinha israelense assumiu o controle do comboio de seis navios que tentava furar o bloqueio imposto por Israel à Faixa de Gaza e forçou que as embarcações atracassem em portos israelenses. Nove ativistas morreram em um dos navios, o que provocou uma forte condenação internacional. Israel afirma que seus comandos agiram em defesa própria.

O enviado da ONU para o Oriente Médio, Robert Serry, disse ao Conselho de Segurança que a entidade está pronta para assumir a responsabilidade de entregar os produtos "em bases excepcionais".

O órgão "obteve o consentimento dos proprietários... para assumir a posse e a responsabilidade por todo o carregamento e garantir sua distribuição a tempo em Gaza para propósitos humanitários como determinado pelas Nações Unidas", disse Serry durante relatório mensal sobre o Oriente Médio.

"O governo de Israel concordou em liberar todo o carregamento para as Nações Unidas em Gaza, mais uma vez no entendimento que é para as Nações Unidas determinar seu uso humanitário apropriado em Gaza", acrescentou.

Israel impôs um bloqueio à Faixa de Gaza desde que o Hamas assumiu o território, há três anos, permitindo apenas a entrada do que considera produtos essenciais.

A agência da ONU para refugiados palestinos coordena um enorme programa de ajuda e educação em Gaza.

Serry afirmou que a ONU iniciará a distribuição dos produtos o mais rápido possível.

(Reportagem de Patrick Worsnip)
Fonte: http://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/reuters/2010/06/15/onu-distribuira-em-gaza-ajuda-de-navios-apreendidos-por-israel.jhtm

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Sobre as novas sanções

O Conselho de Segurança da ONU aprovou o novo pacote de sanções contra o Irã promovido pelos Estados Unidos na reunião desta quarta-feira (09/06), por 12 votos a favor, dois votos contrários - dados por Brasil e Turquia - e uma abstenção (Líbano). O voto brasileiro lembrou o acordo fechado com o governo iraniano no dia 17 de maio, que prevê troca de combustível nuclear sob fiscalização internacional, para defender a opção pela via diplomática e justificar a oposição a medidas punitivas.
Brasil e Turquia foram coerentes. Após o acordo obtido em Teerã não poderiam aprovar sanções criadas por um grupo que simplesmente ignorou o acordo.
As sanções que atingem principalmente os bancos nacionais e os Pasdaran (a Guarda Revolucionária),não atingem o ponto nevrálgico da economia iraniana que é o refino de petróleo para obter gasolina realizado pela China que obviamente condicionou sua aprovação as sanções se este ponto não fosse tocado.
Na prática o acordo trilateral Brasil-Turquia-Irã foi jogado no lixo,o que é lamentável,pois era uma chance de o diálogo prevalecer.De qualquer forma, Brasil e Turquia marcaram sua posição e continuarão a ser atores importantes no teatro das relações internacionais.
Quanto ao anúncio de Teerã de que vai continuar enriquecendo urânio, nada mais natural,já que é signatário do TNP e tem direito a isso.
Estou bastante pessimista em relação a uma resolução a esta questão. Temos dois casos clássicos de embargos que não resultaram em nada: Cuba e Iraque.
O primeiro depauperou a ilha mas não derrubou Fidel,que só entregou o poder por motivos de saúde a seu irmão Raul Castro quando e como quis. No caso do Iraque foi muito pior: após a invasão de 1991, o país árabe passou por um embargo asfixiante, que impedia a importação de cadarços de tênis e leite em pó que na mente doentia dos idealizadores das sanções poderiam ser usados na fabricação de armas.
As sanções ao Iraque empobreceram o país a tal ponto que o país quase não possuía água potável e remédio simples para curar a desidratação e a diarreia que matou cerca de 500.000 crianças. A secretária de Estado Madeleine Albright disse que este era um preço que ela estava disposta a pagar.
O Irã não está enfraquecido como o Iraque e pode suportar as sanções por algum tempo. Resta saber quais as reais intenções do Ocidente: fazer com que o Irã desista de seu programa nuclear,tarefa quase impossível pois ele é apoiado por todos os setores da sociedade, inclusive o tão decantado "movimento verde" ou enfraquecer o país preparando o terreno para uma nova invasão e um novo atoleiro.Há pessoas que não aprendem mesmo...

Brasil teme que sanções ameacem comércio bilateral com o Irã

A preocupação do presidente Lula em evitar sanções ao Irã vai além da negociação nuclear e de seu status na diplomacia internacional.

O temor do Brasil é que, aprovadas pelo conselho de segurança da ONU, essas retaliações também afetem diretamente o comércio entre os dois países.

A componente comercial da defesa do acordo nuclear entre Brasil, Irã e Turquia ficou claro nas conversas de Lula com seus ministros no voo de volta da viagem ao país persa.

Segundo a Folha apurou, Lula comemorou com seus ministros o impacto do acordo nas exportações brasileiras. "Nossas relações comerciais com o Irã vão crescer e muito com esse acordo", disse o presidente à comitiva no retorno ao Brasil.

Chefe da missão empresarial que acompanhou Lula na viagem ao Irã, o ministro Miguel Jorge (Desenvolvimento, Indústria e Comércio) admitiu à Folha a importância comercial de evitar sanções contra o Irã.

"Evitar sanções terá um efeito econômico importante para o Brasil", afirmou o ministro, citando que contratos celebrados com os iranianos poderiam ser afetados principalmente pelos riscos de bloqueio de pagamentos de exportações.

Contratos

Durante a visita de Lula, 64 empresas participaram de contatos com cerca de 250 empresas iranianas. Foram fechados negócios que vão representar exportações de US$ 7,7 milhões. Além disso, há ainda a previsão de US$ 61 milhões de contratos em negociação.

Além disso, empreiteiras brasileiras que participaram da missão, como Queiroz Galvão, Andrade Gutierrez e OAS, têm interesses em obras naquele país. O ministro Márcio Zimmerman (Minas e Energia) disse à Folha que há negociações para parcerias na construção de uma usina de 2 mil megawatts no Irã, de porte médio.

Miguel Jorge disse que hoje boa parte dos pagamentos de exportações brasileiras ao Irã é feita via Dubai por conta dos riscos de sanção. Com isso, o custo das vendas brasileiras fica mais alto.

Segundo ele, se aumentar o risco de novas sanções, ou elas forem aplicadas, isso vai desestimular os exportadores brasileiros pelo receio de bloqueio em pagamentos, que atrasam o recebimento das vendas àquele país.

Nos primeiros quatro meses do ano, as exportações brasileiras para o Irã cresceram 62%. O país persa se tornou o segundo maior importador de carne bovina brasileira. Apesar de ser pequena a participação (0,9%) no comércio externo brasileiro, o governo aposta no seu crescimento e na diversificação de mercados.

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/mundo/747531-brasil-teme-que-sancoes-ameacem-comercio-bilateral-com-o-ira.shtml

terça-feira, 8 de junho de 2010

Debate na TV da Assembleia Legislativa

No último dia 28/05 a convite da TV Sinal,da Assembleia Legislativa do Paraná participei de um debate sobre o acordo Brasil-Turquia-Irã, sua repercussão e consequencias,além de uma reflexão sobre a política externa brasileira. Hoje a TV Sinal disponibilizou a íntegra dos programas em seu site. O programa Plano Geral,dividido em três blocos pode ser visto nos links abaixo:

http://www.alep.pr.gov.br/video/plano-geral-brasil-e-ira-bloco-1

http://www.alep.pr.gov.br/video/plano-geral-brasil-e-ira-bloco-2

http://www.alep.pr.gov.br/video/plano-geral-brasil-e-ira-bloco-3

terça-feira, 1 de junho de 2010

Justificando o injustificável...

Após atacar um navio que trazia ajuda humanitária a Faixa de Gaza,isolada por Israel há 2 anos,matando 10 pessoas e ferindo 30, o país judeu agora tenta justificar o injustificável: a truculência de sua ação. Nada,nada justifica que os soldados tenham aberto fogo contra os tripulantes de um navio que,como já era de conhecimento geral, era formado por parlamentares da União Europeia,membros de ONG's e até um sobrevivente do Holocausto. Mesmo que essas pessoas tenham reagido à invasão da embarcação como alega Israel,há maneiras não-letais de se controlar um grupo de pessoas.É revoltante ver pessoas dizendo que levar alimentos e remédios a uma população sitiada seja um "ato de terrorismo". Os manifestantes não ofereciam perigo algum aos soldados. Só queriam lembrar ao mundo o bloqueio que os habitantes de Gaza sofrem desde a incursão militar de 2008.Pensando bem,talvez este seja o perigo...