segunda-feira, 2 de agosto de 2010

O Convite de Ahmadinejad

É curioso observar o discurso das agências de notícias. A mesma notícia pode ser dada com um enfoque de acordo com o interesse de quem dá a notícia,como na célebre piada do cão que morde o corintiano ou o árabe ou quem quer que a pessoa que a conte queira gracejar. O cão pode ser o algoz ou vítima de acordo com as circunstâncias.
Da mesma forma podemos analisar o noticiário acerca da proposta do presidente Mahmoud Ahmadinejad de participar de um debate televisivo com Barack Obama. A Reuters noticiou como um desafio,uma fanfarronice,mas não mencionou um pequeno detalhe: na véspera o Irã havia sido ameaçado de ataque militar pelo chefe do Estado Maior norte-americano Michael Mullen. Da mesma forma o Irã vem alardeando que o acordo trilateral assinado em maio com Turquia e Brasil continua valendo.
Trata-se de um desafio ou de uma tentativa desesperada (embora bem disfarçada) de evitar um ataque militar?

domingo, 18 de julho de 2010

Um exemplo de realpolitik

Há no mundo todo 1,3 bilhão de muçulmanos. Destes,apenas 18% são árabes. Os demais são turcos,indianos,paquistaneses,europeus,chineses,americanos e...persas ou iranianos. A rivalidade entre persas e árabes é milenar. Esta rivalidade já existia desde antes do surgimento do Islã,mas neste período o Império persa era poderoso e os árabes um grupo de nômades desorganizados e desunidos. O Islã unificou os árabes sob uma única língua e religião e o que ocorreu daí por diante foi uma das mais assombrosas expansões da História: menos de um século após o falecimento do profeta Muhammad (Maomé) o Islã já se constituía um império que ia da Espanha até a China. Quando chegaram a Pérsia,os árabes encontraram resistência,embora a princípio os persas tenham adotado a versão sunita do Islã,majoritária até hoje,contando com 85% dos muçulmanos. Apenas no século XVI a Pérsia de torna xiita,quando a dinastia safávida chega ao poder. Estudiosos como Stephen Kinzer afirmam que a opção xiita dos persas era uma maneira de aceitar a religião trazida pelos estrangeiros,mas em sua versão "rebelde". Na verdade não é tão simples assim: o Islã xiita guarda grandes semelhanças com a religião original da Pérsia que é o zoroastrismo:bastante emocional,dualística e fundada em líderes carismáticos. Zaratustra no zoroatrismo Muhammad e Ali no xiismo.
Desde então a rivalidade entre persas (iranianos desde 1935) e árabes só fez crescer.
O artigo publicado anteontem na publicação alemã "Der Spiegel",mostra que há um alinhamento entre os conservadores governos árabes e a linha mais à direita do atual governo israelense. A solidariedade entre muçulmanos só existe entre os cidadãos comuns e nos pronunciamentos oficiais. No mundo da política real,as coisas são bem diferentes,com podemos ver a seguir:

"Israel e os Estados árabes próximos ao Golfo Pérsico reconhecem uma ameaça comum: o regime de Teerã. Um diplomata da região sequer descartou apoio por parte dos Estados árabes a um ataque militar com o objetivo de acabar com as ambições nucleares do Irã.

A manhã começou há pouco no cais em Sharjah, que fica logo abaixo do Museu da Civilização Islâmica, e onde os pesados navios de madeira conhecidos com dhows estão sendo carregados. Trabalhadores paquistaneses levam blocos de motores, monitores de plasma e óleo mineral para os porões dos navios. Quando lhes perguntam para onde os dhows estão seguindo, eles dizem, tranquilamente: “Para o Irã”.

O comércio entre os Emirados Árabes Unidos e o seu vizinho que fica do outro lado do Estreito de Hormuz é uma ocorrência diária tão trivial que mal merece ser mencionada nas docas.

As mesmas famílias frequentemente possuem membros em ambas as costas do estreito. O relacionamento comercial entre elas cresceu no decorrer de gerações e são mais duradouras do que qualquer guerra ou embargo comercial.

É claro que o envio de blocos de motores para o cidade portuária iraniana de Bandar-e Lengeh não é proibido. Mas a movimentada atividade de importação e exportação nos cais de atracação dos dhows nos emirados de Sharjah, Dubai e Ras al-Khaimah demonstram como é difícil isolar Teerã.

“Incrivelmente honesto”

Isso torna ainda mais interessantes as palavras proferidas na terça-feira pelo embaixador dos Emirados Árabes Unidos nos Estados Unidos, Yousef Al Otaiba, em Aspen, no Estado do Colorado, que fica mais de 12.500 quilômetros a oeste do Golfo Pérsico. Otaiba participava de um fórum no Festival de Ideias do Instituto Aspen, e o clima era de tranquilidade, ou pelo menos era excessivamente relaxado para o padrão diplomático.

A discussão girava em torno do Oriente Médio. Quando lhe perguntaram se os Emirados Árabes Unidos apoiariam um possível ataque aéreo israelense contra o regime de Teerã, o embaixador Otaiba respondeu: “Um ataque militar contra o Irã, desfechado por qualquer país, seria um desastre, mas um Irã com uma arma nuclear seria um desastre ainda maior”.

Estas foram palavras incomumente honestas. “Um ataque militar sem dúvida provocaria uma retaliação. Haveria problemas, com populações protestando e se rebelando, e se mostrando extremamente insatisfeitas com o fato de uma força militar estrangeira atacar um país muçulmano”, disse Otaiba.

Mas, ele acrescentou: “Se você me perguntar se eu prefiro um quadro como este ou um Irã nuclear, a minha resposta será a mesma. Nós não podemos conviver com um Irã nuclear. Eu estou disposto a absorver tudo o que ocorrer em nome da segurança dos Emirados Árabes Unidos”.

A parlamentar norte-americana do Partido Democrata, Jane Harman, disse depois que nunca ouviu algo como isso de uma autoridade de um governo árabe. “Otaiba foi incrivelmente honesto”, acrescentou Harman.

“Apesar da natureza chocante das suas declarações, Otaiba estava apenas expressando, em um fórum público, a posição de muitos países árabes”, afirma o especialista em Oriente Médio Jeffrey Goldberg, que escreve para a revista “The Atlantic Monthly”, e que foi o moderador do painel de discussões em Aspen.

O fato de alguns políticos ocidentais não estarem familiarizados com essa posição tem a ver com a própria ignorância deles, e com a habilidade diplomática com a qual os menores Estados da região do Golfo Pérsico, em particular, foram capazes de ocultar até agora a sua oposição ao seu poderoso vizinho.

“Os judeus e os árabes estão brigando há cem anos. Mas os árabes e os persas brigam há mil anos”, argumenta Goldberg no site da “The Atlantic Monthly”.

Quase todos os vizinhos árabes mantêm uma relação hostil com a república islâmica. A Arábia Saudita suspeita que o Irã esteja atiçando a minoria xiita nas suas províncias orientais. Os emirados árabes acusam o Irã de ter ocupado três ilhas no Golfo Pérsico. O Egito não mantém relações diplomáticas regulares com o Irã desde que uma rua em Teerã foi batizada com o nome do assassino do ex-presidente egípcio Anwar el-Sadat.

O rei da Jordânia, Abdullah II, faz advertências quanto ao estabelecimento de um “crescente xiita” entre o Irã e o Líbano. E o Kuait, temendo os iranianos, instalou o sistema de defesa antimísseis norte-americano Patriot no segundo trimestre deste ano.

Estreitamente alinhados

Os governos árabes estão preocupados com um Irã forte, com o programa nuclear iraniano e com os discursos incendiários do presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad. Eles compartilham essas preocupações com um outro governo do Oriente Médio – o governo de Israel.

Nunca antes os interesses estratégicos dos Estados árabes e judeu estiveram tão estreitamente alinhados. Enquanto especialistas em segurança europeus e norte-americanos caracterizam sistematicamente um ataque militar contra o Irã como “um último recurso”, autoridades árabes há muito compartilham as ideias do ministro do Exterior ultranacionalista de Israel, Avigdor Lieberman. “Se ninguém assumir a tarefa de bombardear o Irã, Israel terá que fazer isso”, disse a “Spiegel” o clérigo saudita Mohsen al-Awaji. “A agenda de Israel tem os seus limites”, afirmou al-Awaji, observando que Israel está preocupado principalmente em assegurar a sua existência nacional. “Mas a agenda do Irã é global”.

Às vezes essa agenda leva a ações que são tão absurdas quanto típicas. Em fevereiro, por exemplo, Teerã baixou uma proibição de aterrissagens contra todas as companhias aéreas que utilizarem o termo “Golfo Árabe” em vez de “Golfo Pérsico” nos seus programas de bordo.

Mas os países árabes estão exercendo uma delicada política de vai-e-vem. Os Emirados Árabes Unidos não têm condições de ofender publicamente o Irã, o que explica por que o embaixador Otaiba recebeu imediatamente a ordem de retornar para casa na última quarta-feira.

Essa cautela apenas oculta a profunda divisão existente entre os árabes e os persas. Apesar das suas manifestações públicas de indignação com as ações israelenses, como por exemplo o bloqueio militar à Faixa de Gaza, os países árabes da região continuam a seguir a sua rota pragmática. Em 12 de junho, o jornal “The Times” de Londres noticiou que a Arábia Saudita havia recentemente “conduzido testes para desativar as suas defesas aéreas a fim de permitir que jatos israelenses desfechassem um bombardeio contra as instalações nucleares do Irã” - na eventualidade de um ataque israelense contra a usina nuclear localizada em Bushehr. E, em março, agências de inteligência ocidentais anunciaram que havia sinais de negociações secretas entre Jerusalém e Riad no sentido de discutir essa possibilidade.

“Nós estamos alinhados com os Estados Unidos em todas as questões políticas no Oriente Médio”, disse em Aspen o embaixador Otaiba.

Pragmatismo e mudanças de alianças

“Os Emirados Árabes Unidos optaram por se alinhar ao campo daqueles que apoiaram a carta da nova resolução da Organização das Nações Unidas (ONU) de 9 de junho”, escreveu o filósofo francês Bernard-Henri Lévy, observando que isso se constituiu em “um verdadeiro golpe para o regime do Irã”. Para Lévy, a “union sacrée” de países muçulmanos contra o “inimigo sionista” é uma fantasia. Ele acrescentou que os países que se sentem ameaçados por Teerã têm agora a oportunidade de formar uma aliança de conveniência.

Além da Jordânia, os Emirados Árabes Unidos são o único país árabe que possui soldados servindo no Afeganistão – lutando ao lado dos Estados Unidos. Abu Dhabi, o mais rico dos sete emirados, estaria pressionando Dubai para manter sob cerrada vigilância os vários iranianos influentes que vivem lá.

No final de junho, o banco central dos Emirados Árabes Unidos congelou 41 contas bancárias, e descobriu-se que algumas delas estariam diretamente vinculadas à Guarda Revolucionária do Irã. As contas estariam sendo utilizadas para realizar transações vinculadas ao contrabando de materiais contidos na lista de embargo contra o Irã.

Antes disso, os Emirados Árabes Unidos anunciaram um controle mais rígido sobre os navios na zona de livre comércio de Dubai. “Forças de segurança interditaram vários navios suspeitos de transportar cargas ilícitas”, afirmou Hamad Al Kaabi, o representante permanente dos Emirados Árabes Unidos junto à Agência Internacional de Energia Atômica.

As nações árabes do Golfo Pérsico estão seguindo uma realpolitik nas suas relações com o Irã. Quando ficam em dúvida, elas pulam para o lado dos norte-americanos, mas preferem seguir a rota da negociação e do comércio. O líder de um emirado do Golfo Pérsico disse recentemente a uma delegação de políticos europeus: “A melhor forma de lidar com os iranianos é fazendo negócios com eles”.

domingo, 27 de junho de 2010

Os EUA se perguntam: o que fazer com Israel?

Alguns tópicos são tão inflamatórios que nunca são discutidos sem que primeiro seja feita uma série de advertências. E, assim, quando Anthony Cordesman, um estudioso de política externa de Washington, publicou um artigo na quarta-feira intitulado "Israel como um Problema Estratégico", fez questão de abrir o texto com uma série de explicações.

Primeiro, observou, o compromisso americano com Israel tem motivos morais e éticos - uma reação ao Holocausto, ao antissemitismo de países ocidentais e à resistência americana em entrar na II Guerra Mundial, o que permitiu o extermínio dos judeus pelos nazistas. Em segundo, Israel é uma democracia com os mesmos valores que os EUA. Terceiro, os EUA jamais abandonarão Israel, sempre o ajudando a manter sua vantagem militar sobre seus vizinhos. E Washington protegerá Israel contra uma ameaça nuclear iraniana.
Mas, assim que acabou de expor o que no jornalismo é conhecido como "parágrafos de garantia", Cordesman apresentou um argumento que tem ganhado espaço em Washington - dentro do governo de Obama (incluindo Casa Branca, Pentágono, Departamento de Estado) e fora, em fóruns e encontros políticos. Governos israelenses recentes, particularmente o do primeiro-ministro Benyamin Netanyahu, alegou Cordesman, têm ignorado as preocupações de segurança nacional de seu maior benfeitor, os EUA, e têm adotado medidas que prejudicam os interesses americanos no exterior.


"A profundidade do compromisso moral de Washington não justifica nem desculpa ações de um governo israelense que desnecessariamente torna Israel um problema estratégico quando o país deveria continuar a ser um trunfo", escreveu Cordesman em comentário para o Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais. "Já é tempo de Israel perceber que tem obrigações com os EUA, assim como os EUA têm com Israel, e se tornar muito mais cuidadoso na forma como testa os limites da paciência dos EUA e explora o apoio dos judeus americanos."

A lista de iniciativas recentes do governo de Netanyahu que constituem uma ameaça potencial aos interesses americanos tem aumentado de forma constante, segundo muitos peritos em política externa. A violência que explodiu quando patrulhas israelenses invadiram barcos da flotilha que seguia para a Faixa de Gaza em 31 de maio esfriou as relações americanas com um aliado-chave muçulmano, a Turquia. A disputa na Faixa de Gaza também torna mais difícil que os EUA consigam formar uma coligação que inclua Estados árabes e muçulmanos contra as ambições nucleares do Irã. A recusa de Netanyahu de interromper a construção de habitações judaicas em Jerusalém Oriental também prejudica as relações americanas com aliados árabes. Tudo isso torna ainda mais difícil alcançar um eventual acordo de paz, que muitos oficiais do governo acreditam ser fundamental para os interesses dos EUA.

O presidente Barack Obama e o general David H. Petraeus, recém-empossado chefe das operações militares dos EUA no Afeganistão, falaram nos últimos meses sobre a ligação entre o contínuo conflito entre israelenses e árabes e os interesses de segurança dos americanos. Durante uma coletiva de imprensa em abril, Obama declarou que esses conflitos no Oriente Médio acabaram "custando significativamente em termos de sangue e tesouros"; além disso, ele fez uma ligação explícita entre a disputa israelo-palestina e a segurança dos soldados americanos enquanto combatem extremistas islâmicos no Iraque, Afeganistão e outros locais.

Petraeus abordou o tema num recente discurso ao Congresso norte-americano, dizendo que a falta de progressos no Oriente Médio cria um ambiente hostil para os EUA. Após causar furor entre os presentes, ele explicou que não queria dizer que os soldados são colocados em risco pelo apoio dos EUA a Israel, fazendo um grande esforço para salientar a importância da parceria estratégica com Israel. "Mas o status quo atual é insustentável", afirmou. "Se não obtivermos progresso em uma paz justa e duradoura no Oriente Médio, os extremistas terão espaço para nos perseguir."

Recentemente,Benyamin Netanyahu anunciou a construção de novos assentamentos judaicos na Cisjordânia. Segundo o Direito Internacional construir assentamentos em territórios ocupados militarmente é ilegal,mas o governo israelense segue construindo essas colônias impunemente há décadas. No início de seu governo, Obama se manifestou firmemente contra a expansão destas colônias, mas a atitude de Israel até agora tem sido a de ignorar solenemente o presidente norte-americano e a opinião pública mundial. Israel se isola casa vez mais confiando na força de suas armas e de seu lobby em Washington.Resta saber o que acontecerá quando as atitudes de Bibi realmente se chocarem com os interesses norte-americanos na região.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Frase do dia

"Queimamos os dedos fazendo coisas que todo mundo dizia serem úteis e, no fim das contas, descobrimos que algumas pessoas não aceitavam 'sim' como resposta",(Celso Amorim ao jornal inglês Financial Times em referência ao estímulo que o Brasil recebeu dos EUA para negociar com o Irã e o posterior recuo de Obama.)

terça-feira, 15 de junho de 2010

ONU distribuirá em Gaza ajuda de navios apreendidos por Israel

NAÇÕES UNIDAS (Reuters) - A Organização das Nações Unidas (ONU) concordou em distribuir na Faixa de Gaza a ajuda humanitária levada por três navios apreendidos por Israel em 31 de maio e teve o consentimento de Israel e dos proprietários turcos para realizar a operação, disse um enviado da entidade nesta terça-feira.

A Marinha israelense assumiu o controle do comboio de seis navios que tentava furar o bloqueio imposto por Israel à Faixa de Gaza e forçou que as embarcações atracassem em portos israelenses. Nove ativistas morreram em um dos navios, o que provocou uma forte condenação internacional. Israel afirma que seus comandos agiram em defesa própria.

O enviado da ONU para o Oriente Médio, Robert Serry, disse ao Conselho de Segurança que a entidade está pronta para assumir a responsabilidade de entregar os produtos "em bases excepcionais".

O órgão "obteve o consentimento dos proprietários... para assumir a posse e a responsabilidade por todo o carregamento e garantir sua distribuição a tempo em Gaza para propósitos humanitários como determinado pelas Nações Unidas", disse Serry durante relatório mensal sobre o Oriente Médio.

"O governo de Israel concordou em liberar todo o carregamento para as Nações Unidas em Gaza, mais uma vez no entendimento que é para as Nações Unidas determinar seu uso humanitário apropriado em Gaza", acrescentou.

Israel impôs um bloqueio à Faixa de Gaza desde que o Hamas assumiu o território, há três anos, permitindo apenas a entrada do que considera produtos essenciais.

A agência da ONU para refugiados palestinos coordena um enorme programa de ajuda e educação em Gaza.

Serry afirmou que a ONU iniciará a distribuição dos produtos o mais rápido possível.

(Reportagem de Patrick Worsnip)
Fonte: http://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/reuters/2010/06/15/onu-distribuira-em-gaza-ajuda-de-navios-apreendidos-por-israel.jhtm

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Sobre as novas sanções

O Conselho de Segurança da ONU aprovou o novo pacote de sanções contra o Irã promovido pelos Estados Unidos na reunião desta quarta-feira (09/06), por 12 votos a favor, dois votos contrários - dados por Brasil e Turquia - e uma abstenção (Líbano). O voto brasileiro lembrou o acordo fechado com o governo iraniano no dia 17 de maio, que prevê troca de combustível nuclear sob fiscalização internacional, para defender a opção pela via diplomática e justificar a oposição a medidas punitivas.
Brasil e Turquia foram coerentes. Após o acordo obtido em Teerã não poderiam aprovar sanções criadas por um grupo que simplesmente ignorou o acordo.
As sanções que atingem principalmente os bancos nacionais e os Pasdaran (a Guarda Revolucionária),não atingem o ponto nevrálgico da economia iraniana que é o refino de petróleo para obter gasolina realizado pela China que obviamente condicionou sua aprovação as sanções se este ponto não fosse tocado.
Na prática o acordo trilateral Brasil-Turquia-Irã foi jogado no lixo,o que é lamentável,pois era uma chance de o diálogo prevalecer.De qualquer forma, Brasil e Turquia marcaram sua posição e continuarão a ser atores importantes no teatro das relações internacionais.
Quanto ao anúncio de Teerã de que vai continuar enriquecendo urânio, nada mais natural,já que é signatário do TNP e tem direito a isso.
Estou bastante pessimista em relação a uma resolução a esta questão. Temos dois casos clássicos de embargos que não resultaram em nada: Cuba e Iraque.
O primeiro depauperou a ilha mas não derrubou Fidel,que só entregou o poder por motivos de saúde a seu irmão Raul Castro quando e como quis. No caso do Iraque foi muito pior: após a invasão de 1991, o país árabe passou por um embargo asfixiante, que impedia a importação de cadarços de tênis e leite em pó que na mente doentia dos idealizadores das sanções poderiam ser usados na fabricação de armas.
As sanções ao Iraque empobreceram o país a tal ponto que o país quase não possuía água potável e remédio simples para curar a desidratação e a diarreia que matou cerca de 500.000 crianças. A secretária de Estado Madeleine Albright disse que este era um preço que ela estava disposta a pagar.
O Irã não está enfraquecido como o Iraque e pode suportar as sanções por algum tempo. Resta saber quais as reais intenções do Ocidente: fazer com que o Irã desista de seu programa nuclear,tarefa quase impossível pois ele é apoiado por todos os setores da sociedade, inclusive o tão decantado "movimento verde" ou enfraquecer o país preparando o terreno para uma nova invasão e um novo atoleiro.Há pessoas que não aprendem mesmo...

Brasil teme que sanções ameacem comércio bilateral com o Irã

A preocupação do presidente Lula em evitar sanções ao Irã vai além da negociação nuclear e de seu status na diplomacia internacional.

O temor do Brasil é que, aprovadas pelo conselho de segurança da ONU, essas retaliações também afetem diretamente o comércio entre os dois países.

A componente comercial da defesa do acordo nuclear entre Brasil, Irã e Turquia ficou claro nas conversas de Lula com seus ministros no voo de volta da viagem ao país persa.

Segundo a Folha apurou, Lula comemorou com seus ministros o impacto do acordo nas exportações brasileiras. "Nossas relações comerciais com o Irã vão crescer e muito com esse acordo", disse o presidente à comitiva no retorno ao Brasil.

Chefe da missão empresarial que acompanhou Lula na viagem ao Irã, o ministro Miguel Jorge (Desenvolvimento, Indústria e Comércio) admitiu à Folha a importância comercial de evitar sanções contra o Irã.

"Evitar sanções terá um efeito econômico importante para o Brasil", afirmou o ministro, citando que contratos celebrados com os iranianos poderiam ser afetados principalmente pelos riscos de bloqueio de pagamentos de exportações.

Contratos

Durante a visita de Lula, 64 empresas participaram de contatos com cerca de 250 empresas iranianas. Foram fechados negócios que vão representar exportações de US$ 7,7 milhões. Além disso, há ainda a previsão de US$ 61 milhões de contratos em negociação.

Além disso, empreiteiras brasileiras que participaram da missão, como Queiroz Galvão, Andrade Gutierrez e OAS, têm interesses em obras naquele país. O ministro Márcio Zimmerman (Minas e Energia) disse à Folha que há negociações para parcerias na construção de uma usina de 2 mil megawatts no Irã, de porte médio.

Miguel Jorge disse que hoje boa parte dos pagamentos de exportações brasileiras ao Irã é feita via Dubai por conta dos riscos de sanção. Com isso, o custo das vendas brasileiras fica mais alto.

Segundo ele, se aumentar o risco de novas sanções, ou elas forem aplicadas, isso vai desestimular os exportadores brasileiros pelo receio de bloqueio em pagamentos, que atrasam o recebimento das vendas àquele país.

Nos primeiros quatro meses do ano, as exportações brasileiras para o Irã cresceram 62%. O país persa se tornou o segundo maior importador de carne bovina brasileira. Apesar de ser pequena a participação (0,9%) no comércio externo brasileiro, o governo aposta no seu crescimento e na diversificação de mercados.

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/mundo/747531-brasil-teme-que-sancoes-ameacem-comercio-bilateral-com-o-ira.shtml