sexta-feira, 28 de maio de 2010

Uma vitória de Pirro?

Os 189 países signatários do Tratado de Não-Proliferação (TNP) reunidos em Nova York conseguiram chegar a um consenso na tarde desta sexta-feira e assinar uma declaração final, propondo um plano detalhado rumo ao desarmamento nuclear mundial e uma zona livre de armas nucleares no Oriente Médio.

A declaração final de 28 páginas foi aprovada por unanimidade hoje, último dia da conferência que durou um mês.O tratado passa por uma revisão a cada cinco anos e, na conferência de 2005, os países não conseguiram chegar a uma declaração final.
O documento final também determina uma nova conferência em 2012 "sobre o estabelecimento de uma zona livre de armas nucleares e todas as outras armas de destruição em massa no Oriente Médio". Essa foi uma ideia dos países árabes para pressionar Israel a renunciar a seu arsenal nuclear não declarado.
Após a aprovação do acordo, o chefe da delegação iraniana, Ali Asghar Soltanieh, se uniu aos demais nos calorosos aplausos na sede da Assembleia Geral da ONU.

Porém,os países que não são signatários do TNP (no caso do Oriente Médio, Israel) não são obrigados a acatar a declaração. Israel não assina o TNP justamente para não se comprometer com declarações desse tipo,portanto o que muda? Muda apenas o fato de que os árabes estão aprendendo maneiras mais sutis de expor suas posições,usando os caminhos diplomáticos ao invés da propaganda panfletária,que desde sempre têm alcance limitado.
A ideia do bloco árabe é que,mesmo que essa declaração não surta efeito imediato, no longo prazo o mundo perceba que Israel não é um país minúsculo cercado de inimigos hostis por todos os lados (o que é uma simplificação, já que Israel possui relações diplomáticas com Egito e Jordânia e nunca teve problemas sérios com as monarquias do Golfo),e que os palestinos têm direito a negociações justas em pé de igualdade,de preferência com um mediador neutro, para que finalmente seja solucionado o problema da ocupação que já dura 43 anos. Recentemente surgiu na Palestina um movimento de resistência pacífica (registrado no documentário "Budrus" da diretora brasileira Julia Bacha),que optou um caminho nunca antes tentado naquela região: a da não-violência. Pode ser que este movimento demore anos para dar frutos,ou mesmo que se esvazie antes disso,mas talvez as vitória da diplomacia obtida hoje e a resistência pacífica possam dar a resposta que décadas de conflitos armados não deram.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Brasil pode dominar o ciclo nuclear ainda em 2010

O Brasil está pronto para dominar o ciclo nuclear completo em escala industrial, segundo o coordenador do Programa de Propulsão Nuclear da Marinha, capitão de mar e guerra André Luis Ferreira Marques. A inauguração da primeira fase da Usina de Hexafluoreto de Urânio (Usexa), prevista para este ano, permitirá que o País atue em todas as etapas do beneficiamento do mineral radioativo, desde a extração até a fabricação do combustível nuclear em grande proporção. Com isso, o Brasil ficaria independente de outros países no processo de enriquecimento, garantindo suprimento para as usinas nucleares e também para o futuro submarino nuclear.

No Centro Tecnológico da Marinha, no complexo militar de Aramar, em Iperó (SP), onde fica a Usexa, o ritmo das obras é acelerado. Na mesma área estão sendo construídos os prédios do Laboratório de Geração Nucleoelétrica (Labgen), responsável pela fabricação do reator do futuro submarino nuclear. "A Usexa começará a funcionar nos próximos meses em fase de comissionamento, quando são testados o sistema e os equipamentos para demonstrar que eles operam corretamente. As temperaturas, as pressões, as vazões, se as válvulas estão funcionando e se a instrumentação está dando informação confiável. Mas não vamos botar o urânio, ainda."

Segundo o militar, o 'yellow cake' - urânio em forma de um pó amarelo - só deve começar a ser processado em 2011. A Usexa é formada por 40 quilômetros de tubos, tanques, fornos e milhares de válvulas, onde o mineral é misturado com outros produtos químicos para sair em estado gasoso, o hexafluoreto de urânio, ou UF6.

O objetivo da Usexa é produzir combustível para o submarino nuclear brasileiro, que deve entrar em operação por volta de 2020. No complexo de Aramar serão produzidas 40 toneladas de UF6 por ano. Atualmente só seis países têm condições de fazer a conversão do 'yellow cake' em gás: França, Rússia, Canadá, EUA, Brasil e Irã. O UF6 que o Brasil usa ainda é processado no Canadá.
As informações são da Agência Brasil.
Fonte: http://noticias.br.msn.com/artigo.aspx?cp-documentid=24337259

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Ron Paul para Presidente!

Em um discurso perante a Câmara dos Deputados dos EUA, o deputado republicano (!) Ron Paul, do Texas (!!) expressou sua oposição ao Pacote de Sanções ao Irã referindo-se à legislação como " um dissimulado esforço para ir a guerra contra o Irã . "

Ron Paul traçou paralelos entre o impulso atual para isolar o Irã e os eventos que levaram à invasão liderada pelos EUA do Iraque em 2003: "Ouvindo o debate sobre a palavra sobre estas sanções me sinto como se estivéssemos em 2002 mais uma vez: as mesmas falsidades e distorções usadas para pressionar os Estados Unidos numa guerra desastrosa e desnecessária de um trilhão de dólares no Iraque estão sendo usadas outra vez para nos levar para o que provavelmente será uma guerra ainda mais desastrosa e cara no Irã. Os paralelos entre as situações são impressionantes. Quem acha que as sanções são uma maneira mais leve de punir um país está totalmente enganado: as sanções sempre levam ao passo seguinte.”

Continuando seu discurso, Paul foi crítico ao que ele descreveu como "alarmismo", as afirmações de que em um ano o Irã terá mísseis que capazes de atingir os Estados Unidos , e que o Irã será em breve capaz de detonar uma arma nuclear. No meio do seu discurso perguntou: “Onde nós já tínhamos ouvido antes tais alegações? “

O deputado também observou que o Irã, que é signatário do Tratado de Não-Proliferação Nuclear, nunca foi flagrado violando este tratado. Enquanto isso, Índia,Paquistão e Israel sequer são signatários do TNP e são considerados “amigos e lhes damos dinheiro”,tendo o Paquistão inclusive vendido tecnologia nuclear à Coreia do Norte sem qualquer punição. Além disso, observou Paul, o Irã não é capaz de enriquecer urânio até o nível necessário para fabricar armas nucleares. Finalmente, de acordo com a CIA, não há evidências de que o Irã esteja trabalhando atualmente em um programa de armas nucleares,embora segundo o deputado, eles certamente gostariam de tê-las,por que não? Estão cercados por vizinhos nucleares.

Ao finalizar seu discurso, Paul lembrou que “viramos o Iraque do avesso em busca de armas de destruição em massa,milhares de pessoas foram mortas e feridas e colocamos no poder xiitas aliados dos iranianos.”
Um dos comentários mais brilhantes do discurso do republicano é que os EUA estão colocando o Irã “no bolso dos chineses” ao interromper seu comércio com eles, o que “não faz o menor sentido”, e que a obsessão americana pelo controle dos recursos naturais remonta ao período do colonialismo.
Na internet já há um movimento pela candidatura de Ron Paul à presidência norte-americana em 2012. Estou pensando seriamente em aderir.

*Com a colaboração do professor Francisco Ferraz.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Cautela...

O Acordo Trilateral Brasil-Irã-Turquia foi uma vitória da diplomacia,mas que deve ser vista com as devidas reservas.Deve-se destacar que dificilmente o acordo sairia sem a participação do primeiro-ministro turco Recep Tayyip Erdogan,que deu as garantias a Teerã da devolução do urânio que deverá ser enriquecido a 20%.Tal acordo deverá esfriar por ora a implementação de sanções,se o Irã cumprir sua parte.

Os mais céticos afirmam que o Irã ganha tempo para desenvolver secretamente um programa com fins militares,porém é de se pensar se o governo de Teerã manipularia assim dois dos únicos países que apoiam abertamente seu programa nuclear,justamente Brasil e Turquia. Se as expectativas mais pessimistas se confirmarem aí sim o irã ficaria definitivamente isolado e ninguém mais o defenderia das sanções.

Trata-se de uma discussão altamente ideologizada. Aqueles que são a favor das sanções partem da premissa de que nenhum país islâmico é confiável (com a possível exceção da Turquia,país-membro da OTAN,e que tem boas relações com EUA e Israel)e que o Irã manterá seu programa nuclear de forma clandestina. É possível. Mas não há evidências concretas a favor deste argumento,a não ser aquilo que o intelectual palestino Edward Said chamava de "wishful thinking", uma belíssima expressão de dificil tradução, mas que significa tomar os próprios desejos como realidade e basear suas decisões e raciocínios nesses desejos e não nos fatos,manipulando argumentos para que aquilo que queremos ou esperamos aconteça.
Ou seja, se os falcões israelenses decidirem lançar um "ataque preventivo" ao Irã não importa o que o regime de Teerã faça todos os gestos serão publicamente interpretados como "traiçoeiros" e "mentirosos" porque a decisão já está tomada de antemão. Assim ocorreu com o Iraque. Mesmo com os relatórios não-conclusivos dos inspetores da ONU acerca das armas de destruição em massa nunca encontradas, a administração Bush já havia decidido pela invasão e já movimentava tropas no Golfo Pérsico meses antes da invasão,gastando bilhões de dólares num projeto o qual não voltariam mais atrás,independente do que acontecesse na ONU, situação bem retratada no filme "W" de Oliver Stone.

Mas há vozes dissonantes: um artigo do jornal britânico "The Guardian" elogiou o acordo, classificando-o de positivo para todos, "exceto para aqueles em Washington e Tel Aviv que procuram desculpas para isolar ou atacar o Irã".O texto afirma que o evento foi a "estreia de uma nova força no cenário mundial, o eixo Brasil e Turquia".
Os dois países estariam "emergindo como a força global pelo compromisso e o diálogo que o movimento não alinhado nunca conseguiu ser".

Na Espanha, o "El País" diz que a consequência mais imediata do acordo "não será traduzida em termos nucleares, mas políticos, com um notável respaldo para a Turquia e em especial, para Luiz Inácio Lula da Silva".

O jornal diz que o Irã também sai fortalecido politicamente, já que o poder de nações não alinhadas parece ter sido prestigiado com o acordo. Além disso a China e a Rússia, que vêm relutando em aplicar as novas sanções, poderiam se basear no acordo para declarar as conversas sobre punições encerradas.

Para o "The New York Times", o presidente dos EUA, Barack Obama, tem agora em suas mãos uma decisão importante: se ele ignorar o acordo, pode emitir sinais de que está rejeitando termos muito parecidos aos que se dispôs a aceitar há oito meses, quando o Irã rejeitou a proposta francesa na última hora.

Por outro lado, se aceitar, muitos dos assuntos urgentes que deveriam ser discutidos com o Irã nos próximos meses (a maioria relacionados às suspeitas de produção da bomba atômica) terão que ser colocados de lado por pelo menos um ano ou mais.

Os 10 pontos do acordo Brasil-Irã-Turquia

Veja os dez pontos da declaração, segundo publicado pela agência de notícias iraniana Irna:

1- Nós reafirmamos nosso compromisso relativo ao Tratado de Não Proliferação (TNP) e, em acordo com os artigos relacionados do TNP, lembramos o direito de todos os Estados membros, principalmente a República Islâmica do Irã, de desenvolver pesquisa, produzir e utilizar energia nuclear (assim como um ciclo de combustível nuclear que inclua atividades de enriquecimento) para propósitos pacíficos.

2- Nós expressamos nossa forte convicção de que agora temos a oportunidade de começar um processo que criará uma atmosfera positiva, construtiva, de não confronto, que leve a uma era de interação e cooperação.

3 - Nós acreditamos que a troca de combustível nuclear é instrumental para iniciar a cooperação em diferentes áreas, especialmente no que diz respeito a uma cooperação nuclear pacífica, incluindo a construção de reatores de pesquisas e usinas nucleares.

4 - Baseado neste ponto, a troca de combustível nuclear é um ponto de partida para começar a cooperação e uma medida construtiva e positiva entre as nações. Tal passo deve acabar em uma cooperação e interação positivas no campo de atividades nucleares pacíficas e em evitar todos os tipos de confrontos abstendo-se de medidas, ações e declarações retóricas que possam prejudicar os direitos do Irã e obrigações decorrentes do TNP.

5 - Baseado nos itens acima, para facilitar a cooperação nuclear mencionada anteriormente, a República Islâmica do Irã aceita enviar um estoque de 1.200 kg de urânio levemente enriquecido à Turquia. Enquanto estiver na Turquia, este urânio permanecerá como propriedade do Irã. O Irã e a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) poderão acionar observadores para monitorar as condições de segurança deste estoque.

6 - O Irã informará a AIEA por escrito, por canais oficiais, a respeito deste acordo em sete dias após a data desta declaração. Após uma resposta positiva do grupo de Viena (Estados Unidos, Rússia, França, AIEA), os detalhes da troca de combustível serão objeto de um acordo escrito e arranjos apropriados entre o Irã e o grupo de Viena, comprometido especificamente a fornecer os 120 quilos do combustível necessários para o reator de pesquisas de Teerã (TRR).

7 - Quando o grupo de Viena declarar seu comprometimento com as condições e pontos desta declaração, ambas as partes se comprometerão com a implementação do acordo mencionado. O Irã expressou estar preparado, em acordo com a declaração, para enviar seu urânio pouco enriquecido em um mês.

8 - Se as condições desta declaração não forem respeitadas, a Turquia, a pedido do Irã, se compromete a devolver sem condições e rapidamente o urânio levemente enriquecido ao Irã.

9 - A Turquia e o Brasil recebem favoravelmente a disposição da República Islâmica do Irã em manter as negociações com os países do grupo 5+1 (Estados Unidos, Rússia, China, França, Reino Unido e Alemanha) em qualquer lugar, incluindo Turquia e Brasil, a propósito das preocupações comuns.

10 - Turquia e o Brasil apreciam o compromisso do Irã com o TNP e seu papel construtivo em buscar a concretização dos direitos nucleares de seus Estados membros. A Republica Islâmica do Irã, por sua vez, aprecia os esforços construtivos dos países amigos, Turquia e Brasil, em criar um ambiente condutor para a realização dos direitos nucleares do Irã.

Com France Presse
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u736306.shtml

sexta-feira, 14 de maio de 2010

O Óbvio Ululante

Finalmente a tão aguardada visita do presidente Lula ao Irã se aproxima. Em entrevista recente Lula afirmou que vai fazer o que Obama,Gordon Brown e outros não fizeram: falar cara a cara com Ahmadinejad. É óbvio que Lula não está indo para o Irã somente para isso,pois esta visita já estava agendada desde visita de Ahmadinejad no segundo semestre do ano passado e o Brasil tem assuntos comerciais a discutir. Mas apesar do ceticismo geral o fato é que o presidente brasileiro conseguiu com que as atenções do mundo estejam voltadas para um encontro entre dois líderes de países tradicionalmente considerados periféricos. Hoje na Rússia Lula disse que considera que sua intenção de convencer o líder iraniano a fazer um acordo com o Ocidente para evitar sanções tem 99% de chances de ser bem-sucedido. Medvedev o líder russo disse que "sendo otimista", Lula teria 30%.
Analistas conservadores,especialmente no Brasil, têm expressado sua preocupação com a possibilidade de que o Brasil seja visto como um "rogue state" se ficar do lado de Teerã até que se comprove que realmente o programa nuclear iraniano possui fins bélicos. Dizem que o Brasil têm sido ingênuo e que está pondo a perder a sua credibilidade internacional por algo que não lhe diz respeito.
Não? Curiosamente o que pouco tem se falado nas análises é que Lula não está defendendo o diálogo com o Irã por simples capricho,para ir contra a maré ou simplesmente para ficar sob os holofotes,embora isso esteja de fato acontecendo. O Brasil apoia o programa nuclear iraniano porque deseja desenvolver o seu próprio programa,como foi dito no primeiro post deste blog.
A grande diferença é que a alguns anos atrás a voz de um presidente brasileiro não seria ouvida e hoje o Brasil além de ser o sexto maior produtor mundial de urânio possui um capital diplomático que permite a ele expor suas posições e ser ouvido num mundo cada vez mais multilateral,onde o chamado Bric (Brasil,Rússia,India e China) formam um grupo impossível de ser ignorado.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Pode o Brasil Salvar o Mundo de uma Guerra contra o Irã?

Esta é uma adaptação da apresentação a 03 de maio do workshop Assuntos Globais do curso de Relações Internacionais da Escola Superior de Propaganda e Marketing em São Paulo. Nela o professor Robert Naiman coordenador da Just Foreign Policy, uma organização dedicada a mobilizar norte-americanos interessados em uma política externa de seu país baseada no Direito Internacional e na diplomacia, fala sobre a crescente importância do Brasil na questão nuclear iraniana:



"Nas últimas décadas, questões fundamentais internacionais de guerra e paz têm sido em grande parte determinado por um pequeno grupo de países, especialmente os membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas, os EUA., Grã-Bretanha, França, Rússia e China, com a contribuição do chamado G7 democracias industriais: Alemanha, Itália, Canadá e Japão. Os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU cada um tem direito de veto sobre as resoluções do Conselho de Segurança da ONU, eles também são os únicos países reconhecidos como Estados dotados de armas nucleares sob o Tratado de Não-Proliferação Nuclear.

Estamos agora em um novo momento nas relações internacionais, em que os países fora dos membros permanentes do Conselho de Segurança e seus aliados estão insistindo em fazer alguma contribuição significativa para estas questões, e estão começando a ter algum sucesso em seu processo de inclusão. O Brasil tem sido um líder nesses esforços.

O exemplo mais marcante desta mudança é a disponibilidade recente do Brasil e da Turquia para desafiar a liderança dos Estados Unidos sobre a questão do programa nuclear iraniano.

Os governos dos Estados Unidos, Grã-Bretanha e França tentam aprovar novas sanções econômicas impostas contra o Irã no Conselho de Segurança das Nações Unidas, como punição para a recusa do Irã em suspender o enriquecimento de urânio. Teerã diz que precisa de urânio enriquecido para abastecer o seu programa civil de energia nuclear e seu reator de uso hospitalar médica mas os EUA acusam o Irã de tentar adquirir uma arma nuclear. Até agora, tanto quanto se sabe, o Irã tem produzido apenas urânio pouco enriquecido, o que não pode ser usado para produzir uma arma nuclear. No entanto, um estoque de urânio pouco enriquecido pode ser enriquecido para armas nucleares embora isso não seja tão simples quanto muitos leigos pensam.

O enriquecimento de urânio pelo Irã ou outras armas não-nucleares estados não é uma violação do Tratado de Não-Proliferação Nuclear, e é geralmente reconhecido que o TNP dá o direito do Irã de enriquecer urânio,assim como Alemanha, Japão, Argentina, Brasil e Países Baixos enriquecem urânio sem violar o Tratado de Não-Proliferação Nuclear (TNP) a o artigo 4 do Tratado deixa bem claro que este direito se estende a todos sem exceção. Inclusive o Irã.

Mas a posição dos EUA e seus aliados mais próximos tem sido a de que o Irã deve ser obrigado a perder o seu direito de enriquecer urânio, mesmo para um programa puramente pacífico , uma vez que o conhecimento tecnológico que o Irã está adquirindo através do enriquecimento de urânio poderia ser desviada para um programa militar, no futuro. Em suma: os EUA e seus aliados simplesmente não confiam no Irã.

Embora seja verdade que o Irã não tenha sido completamente transparente sobre suas atividades, motivações e intenções, há uma diferença significativa de opinião entre os países e mesmo dentro dos Estados Unidos sobre o que isso implica e que deve ser feito sobre isso.

Na verdade, há um crescente corpo de opinião entre os analistas ocidentais que o objetivo do Irã não é a aquisição de uma arma nuclear, mas a aquisição de conhecimentos tecnológicos para montar os componentes de uma arma nuclear sem violar o TNP. Assim o Irã poderia colocar-se em uma posição onde ele pode rapidamente adquirir uma arma nuclear se for atacado.Este procedimento pode dar ao Irã o benefício de adquirir uma arma nuclear como um impedimento contra um ataque ocidental, sem que o Irã viole abertamente o Tratado.

O objetivo EUA, portanto, não tem sido apenas para impedir o Irã de adquirir uma arma nuclear : a meta é impedir o Irã de adquirir os benefícios de dissuasão que o protejam de um ataque norte-americano ou israelense. Os Estados Unidos tem se engajado em uma luta de influência com o Irã na região, sobretudo no Iraque, mas também no Líbano, entre os palestinos, no Afeganistão e dos países predominantemente sunitas do Golfo Pérsico. Acredita-se amplamente em Washington, que os vizinhos do Irã o consideram imune à ameaça de um ataque militar e , isso poderia aumentar drasticamente a influência do Irã na região em detrimento de Estados Unidos.

Esta crença de que permitir que o Irã use seu programa nuclear como um impedimento contra o ataque aumentaria a influência do Irã na região criou um quase-consenso de Washington de que os EUA não podem se contentar em apenas impedir o Irã de adquirir uma arma nuclear, os EUA devem impedir o Irã de se sentir seguro.

Funcionários do governo norte-americano afirmaram que um ataque militar ao Irão iria no máximo, atrasar a capacidade do Irã de adquirir uma arma nuclear em alguns anos. Além disso, uma ação preventiva contra o Irã seria uma violação grave do direito internacional, que poderia causar graves danos políticos para os Estados Unidos, como a invasão do Iraque em 2003, desafiando a ONU. E um ataque militar norte-americano poderia ter consequências extremamente negativas para os EUA em termos de retaliação iraniana na região, no momento em que os EUA tem 150 mil soldados no Afeganistão e no Iraque.

Assim, os Estados Unidos procuraram conter o programa nuclear do Irã com novas sanções da ONU.

Mas, para obter novas sanções do Conselho de Segurança contra o Irã, é claro que os EUA precisam da cooperação de outros. É necessária a cooperação da Rússia e da China, em parte porque a Rússia e China são membros permanentes do Conselho de Segurança e, portanto, poderiam, em teoria vetar qualquer resolução mas principalmente porque ambos têm fortes laços econômicos com o Irã, e seu setor de energia, em particular.

Mas os EUA também precisam do apoio de países fora dos cinco membros permanentes. De acordo com o procedimento da ONU, para conseguir uma resolução novas sanções na ONU, os EUA não precisam apenas evitar o veto dos cinco membros permanentes, é necessário também o apoio favorável de nove membros dos 15 membros do Conselho de Segurança. Tal como está agora, pelo menos, Brasil, Turquia e Líbano, atualmente membros rotativos do conselho provavelmente irão voltar pelo “Não” ou abster-se. Pode haver outros dissidentes, e como um objetivo-chave dos norte-americanos é demonstrar que o Irã está isolado aprovar uma sanção por 9 votos a 6 por exemplo solaparia tal efeito.

Até recentemente, a maior parte da atenção tem sido sobre se os EUA podem induzir a Rússia e a China a aprovar novas sanções. Mas agora o Brasil, juntamente com a Turquia, está pressionando fortemente por uma resolução diplomática para a crise, ao invés de novas sanções, e os relatórios de imprensa recentes têm sugerido que a recente iniciativa diplomática do Brasil teve pelo menos o efeito de atrasar a votação da ONU, enquanto o Brasil e Turquia, atuando como mediadores, tentam trazer de volta à tona uma proposta ocorrida ano passado em que o Irã enviaria alguns de seu estoque de urânio pouco enriquecido para fora do país em troca de receber urânio de alto enriquecimento para o reator de pesquisas médicas, que produz isótopos médicos para o tratamento de câncer.

A proposta para a troca de combustível, que inicialmente foi fortemente apoiada pelo os EUA obrigaria o Irã a suspender o enriquecimento de urânio.

Para os iranianos a proposta para a troca de combustível é muito mais palatável do que suspender o enriquecimento. No Irã, a exigência de suspender o enriquecimento é visto como equivalente a uma demanda que o país desista completamente de seu programa nuclear ,o que é visto como algo que fere a soberania da nação.

O governo brasileiro comparou a pressão atual para que sanções sejam aplicadas contra o Irã com o que ocorreu na preparação para a invasão do Iraque em 2003. Em particular, o Brasil tem expressado o temor de que novas sanções agora prejudiquem as perspectivas de uma solução diplomática e, portanto, definam o cenário para uma nova guerra.

Se o Brasil, trabalhando em conjunto com a Turquia e outros países, conseguir intermediar um acordo entre os EUA e o Irã sobre o programa nuclear iraniano, evitando uma nova guerra que poderia salvar a vida de muitos milhares de pessoas. E, além disso, o custo da guerra não é simplesmente mensurável em vidas perdidas e no dinheiro gasto diretamente no conflito armado. Também há os custos de distrair o mundo de outros assuntos. Afinal,quando o mundo está falando sobre o programa nuclear do Irã, ele não está falando sobre como responder à ameaça do caos climático, ou alcançar as metas da ONU para redução da pobreza, ou garantir o direito dos palestinos à autodeterminação nacional.

O esforço do Brasil para impedir a guerra entre o Ocidente e o Irã e garantir um acordo diplomático deve ser elogiado: na verdade, é o tipo de esforço para que o Prêmio Nobel da Paz foi atribuído no passado. Em 1906, o Presidente dos EUA Theodore Roosevelt foi premiado com o Nobel da Paz para a intermediação do Tratado de Portsmouth, que terminou com a guerra russo-japonesa poupando cerca de duzentos e cinqüenta mil vidas,segundo estimativas.

Agora o Brasil está em plena campanha de eleição presidencial, e alguns da oposição, oportunista,s atacam a política externa do Brasil chamando-a de "ideológica". Mas este é um chamado a um "pragmatismo" na qual o Brasil aceitaria tudo o que Washington faz. O mundo não pode pagar mais este tipo de "pragmatismo", que conduziria provavelmente a mais banhos de sangue iniciados por Washington como o que ocorreu no Iraque. Nos próximos meses, espero que a maioria dos brasileiros não veja estas iniciativas como a política externa do governo Lula, mas como a política externa do Brasil, assim, que não importa quem vença a eleição, o Brasil ainda será um líder mundial para a paz."